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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

noturno



a noite agoniza
mistura-se
com os tons do dia

e da decisão pela angústia hoje errei...

mas são as emoções que me escolhem
quando vou parar
de trocar o dia pela noite?

é que do dia já tiram tanto
de dia aproprio-me da sensibilidade alheia

fujo todo para noite
nela
consigo aproveitar
até o que se descarta
dou outra poesia a toda melodia
rumino todas as saudades
salivo todas as vontades
e se não me curo ao menos vigio a ferida

agora no amanhecer
não escuto mais o que a música diz
como não me livrei nem absorvi a saudade
tenho que esperar outras noites

toda minha sensibilidade é forjada
a luz da lua


Luciano Lopes. 



sábado, 2 de novembro de 2013



a poesia goteja de uma torneira velha
a ternura represada em um dique
que reflete o Sol
as agruras escorrem até a altura dos joelhos
e respinga nos olhos
beijo o bico da torneira
dia a dia
- não há dique que um dia não transborde


Luciano Lopes



evasão



ao menos hoje
por algumas horas
deixa num intervalo
todas as agonias
todas as aflições
todas as procuras
suspensas
a existência
cala, o mundo um pouco

deixa-me descansar esse coração
inquieto
concede a essa alma
: conforto
que seja eu
na noite
com silêncio
e um riso maquinal

deixa-me ausente
o suor do meu rosto
a taça de vinho barato
o barulho do ventilador
como cadência
os suspiros
mantendo meu sangue morno
e essa sensação de que qualquer
mal entendido com a vida
não passa de teimosia minha


Luciano Lopes.


DANÇA



hoje
depois de tudo
dos risos soltos
dos carinhos afoitos
de tantas abundâncias
fico colhendo migalhas no chão
encerado
encerrados
aonde dançamos
tentando
tentados
com dedos gigantes
juntar uns pedaços
de tua pele escassa
ferindo a minha carne
dormente
meus olhos ardem
desentendidos ainda
dos olhos alheios


Luciano Lopes.


DEVANEIOS


DEVANEIOS

espio por detrás das venezianas

— as vistas acostumam-se tão fácil à luz artificial —

que o simples espreitar desprevenido

do que é reflexo da claridade

pela menina dos olhos

num dia de fuga

dos raios de sol

já é uma aventura

há um jardim que observo

— é tão meu!

qualquer dia insurjo-me

e vou

usucapir

suas flores


Luciano Lopes




a noite como uma implosão

deixou lembranças

em ruínas

tentei dar as costas

e ir embora

amanheci o dia

no mesmo lugar

com as mãos cheias

de todos os pedaços

que eu deixei sobreviver




Luciano Lopes



há tantos ruídos
contrapondo-se
aos meus silêncios
há tantas traves
impedindo meu choro
há uma morte
para cada verso

mas a vida é um cordel
que aceita o repente

há o verso que não quer
ser dito...
quer ser bradado!

- bendito seja o verso
que espanta para "os amanhãs"
a hora da última morte -


Luciano Lopes.


Urgência



então a gente combina assim
: eu e sua silhueta
a noite é um convite
o sabor que sinto
na minha boca é agridoce
o cheiro que sinto é amendoado
a lua é um holofote que ilumina
só os contornos apropriados
mais perfeito que isso
só se o eriço na entrega ao tato
fosse imediato


Luciano Lopes.



OUTONO



“devagarinho” as pessoas vão
deixando a gente
e como árvores
a cada doído
adeus
entorta-se mais um galho


Luciano Lopes


na garganta a dor contínua
na madrugada a temperatura
do arrepio
a alma nua, crua, forte e jovem sempre
eu e a noite
-posso sempre navegar até a lua
enganar a lentidão e a exatidão da razão
seguir de novo o coração bandido
no óbvio pode estar o grito de alívio


Luciano Lopes


AMIGOS



(para as mãos do afago e afeto dos meus amigos tão caros)

um inusitado sorriso
quase um descuido
do semblante
mas os olhos riram
décimos de segundo antes
a vida é mesmo um tobogã
que não é íngreme na medida
exata ou até mais ousada
para deixar que as emoções possam
comover-nos constantemente

vez em quando
sinto uma mão atrevida
e bem vinda
ajudando
que o vento passe
um pouco mais de brisa
sobre meu rosto
aliviando meus suores
de ansiedade
fechar os olhos um pouco
descansar dos placebos
e sentir um arrepio
só com os hormônios
apropriados...
ando aceitando mais
mãos amigas
tocando
meus sentidos


Luciano Lopes.


Às vezes, acho 
que o tempo da gente 
é pouco 
para tudo 
que queríamos 
ver mudar 
ao redor 
e dentro...


L.L.


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

SINTOMÁTICO



minha ausência da janela

com o ranger das dobradiças

ando fugindo dela

hoje seu barulho

foi um acaso

: as tramelas descuidadas

vi o sol deixando o dia

tudo virou um borrão amarelo

dei as costas

ando mentindo até para

os encantamentos mais simples


Luciano Lopes


NOTURNO



se eu disser que tenho medo da noite
tenho que desfazer todos os meus tratos
quem faz suas escolhas à noite
entende bem como é difícil o acerto
sou um veterano do medo
foi dele e da noite aberta
que articulei o melhor
foi abraçando o dorso
ao cobertor e a insônia
até amanhecer
que fiz o nascer ou morrer
desejei a morte para mim sem dor
desfiz os amores em ensaios
ruminei a mágoa até a acidez
perdi o medo do medo de qualquer nudez
diluí ansiedade pela última vez com escoras
até a próxima noite...
dei um grito aos ouvintes que ignoravam
o silêncio a quem queria tanto que eu falasse

na luz do dia nem sempre é romper ou fechar pactos
não custa nada esperar um pouco menos de luz


Luciano Lopes.


PULSAÇÕES POR MINUTO



Há de ter alguma paixão
Não há sentido no pulsar
Sessenta
setenta vezes se não
for para dilatar meus olhos
Se não for fazer meus hormônios
correrem fora do compasso
Se o suor não me entregar
Há de pulsar quando menos espera
a cento e cinquenta e descuidar os músculos
da face
: sorriso
Há de doer na minha garganta
: vida
Há de acumular em segredo
que não nos suportaremos
Mas fomos feito um para o outro


Luciano Lopes.


AINDA ESTÁ NOS OLHOS



vem, vamos dançar a música
aonde você leu meus olhos
pela primeira vez
esqueça os anos
que se passam
por um instante
não tenho tantos
prodígios quantos
haviam em mim

mas se seus olhos
conseguirem manter
seu olhar
no meu
como da primeira vez
há neles ainda
uma vontade
que não me abandona
que confesso aqui

a posse que quero sua
a de fazer você sorrir
todas as vezes que seus olhos
não se desviarem dos meus


Luciano Lopes.


SAUDADES



Encontrei o anel
Que tu me deste
dava ciranda
dia desses
Era aliança
do amor para sempre

Se o anel não é de vidro
deixou de ser promessa
misturou-se as bijuterias
que comigo deixaste
que carimbo as página
que para ti ainda esqueço
embaixo da minha porta



Luciano Lopes




POR UM RISO



chega desse outono
não vou clamar temporalmente
digo de meu outono
Espero, contradizendo-me
um setembro de flores
que não vou clamar todas as cores
Espero, contradigo-me mais
um perfume que me arranque
esse suspiro engasgado
e um riso que exponha todas
as minhas linhas de expressões
tão contidas ultimamente


Luciano Lopes


SINA DO POETA


Eis que por ocasião do nascimento
desse poeta
Deus soprou não apenas vida em minha alma
não soprou só o viril desejo pelo sexo oposto
mas uma doce, terna, frágil
e apaixonada cisma
 pela a alma feminina

Desde então
não passei um dia de sossego
em suspiros e aflição
que nunca tomei como castigo
e sim boa dita
que passaria a vida escrevendo canções
ditando aos dedos
bendita vocês chamadas de sexo oposto
que discordo sexo oposto, para bem dizer-lhes
: metade
aonde vim pregar que sou também
: metade

Mas Deus
por vaidade
Olhou-me e disse:
- sucumbirá também às luas
Por isso essa mistura doidivanas de poeta e lobo
Do meu gosto pela dança
mas também a entrega ao ermo
que só se rende a metade que me completa
ou as noites de lua.



Luciano Lopes.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

1º baile




Nesse final de semana fui ao um baile com toda minha família. O primeiro baile em que eu contemplei minha filha como uma moça que ela será. E como nada para mim é entregue ao acaso, recebi um prenúncio de primavera... Para minha retina acostumada a estar atenta, mas passional, era a mais iluminada e bendita.
Teve cólica de suas regras (vai matar o pai por colocar isso a termo, mas corro risco em risos).
- Deixa, o pai cuida filha!
-Essa dor eu sei fazer passar...
- Passou?
- Passou pai
Duas, minto! Três doses de Uísque para mim.
- Vem, vamos dançar! Vamos roubar um pouco do espaço daquela pista de dança.
- Você pai?
- Nós ué!
- Já não dançamos em casa antes?
- Já, mas aqui, maior “mico”!
- “Bora”, pai quer dançar com a menina mais bonita!
Dançamos a noite toda, minha filha, eu e a música, mais nada.
Nos seus olhos o encanto de ver a minha entrega;
Nos meus, uma sensação de estar entregando para ela
meus últimos raios de juventude...
Ainda vou dançar muito!

Luciano Lopes

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Serenata




Começou por esquecer a letra da música, mas o encantamento era tanto que insistia em cantarolar,
embaixo daquela janela, para ele, endereço certo quando a saudade lhe comprimia o peito.
Vivia a esperança de receber um aceno, um lenço, um vulto. Em seu imaginário ouviu certa feita um movimento nas venezianas, uns passos, mais nada .
Com o tempo, deixou de frequentar aquela janela. Não entendia como esquecera por completo aquela música. Pegava atalhos para não ter que passar à frente do que imaginava tão desejado, se sentia desamado. Esqueceu a janela o constrangimento, o caminho.
Ouviu-se madrugada dessas, voltando para casa a música, letra toda. Uma janela enfim lhe correspondeu.
Não há sentido em serenatas para janelas, corações e sorrisos, que não estejam perdidamente receptivos...

Luciano Lopes.

quinta-feira, 26 de julho de 2012






...Meu jogo é um espalhar de pedras de xadrez...
meu olhar não desvia a atenção da rainha
e do rei sempre indefeso
e a simetria do tabuleiro não muda!
Os peões são tantos
E raras são as vezes que não serão
eles minhas moedas de troca

Monto as peças como a regra manda
Na enfileirada cortina que protege o Rei
e sua tola fragilidade...
A rainha a seu lado
Mas a espreita visão, negra ou branca
sucumbirá outro reino alheio
começo um jogo novo montado no cavalo
Para esquerda?
Para direita?
Não importa tanto
Jogo contra mim mesmo
Posso espalhar as peças agora, uma a uma...


Luciano Lopes.

Falha





Dentro desse mundo, opção compulsória, de outro mundo, creio tanto. Que todo dia eu espero enfim acordar. E no outro, nele imagino e torço muito, para eu ser uma pessoa menos complicada. Sonho, todos os dias nesse aqui, que no outro, eu sou bem mais simples que esse que eu vejo no espelho... Acredito tanto que esses contornos que enxergo, deve ser em outra coisa, que nem deve ter nome de espelho...



Luciano Lopes.





Olho todos os lados
a solidão tão decantada veio
Abaixo os olhos eu procuro
A dor
Não há
Nem algoz...
Meu mundo se desenvolve
na velocidade
dos meus suspiros de lamentos
por minha inocência com ruídos de vaidade
por eu não escolher minha solidão
por meu “dar de ombros” a quem meu deu amor
Há em cada pessoa uma pequena falha de conduta
Aceita e excitada às vezes...
Quiçá, culpa do pecado original.

Luciano Lopes





Nessa página que fica me perguntando no que estou pensando, penso nos que dizem sempre que se pudessem voltar atrás não cometeriam os mesmos erros... Se eu voltasse atrás e fosse o mesmo, sem tirar nem por, provavelmente iria cometer os mesmos erros... Até hoje cometo erros análogos...só que com mais rigor e com roupas menos despojadas.

Luciano Lopes.

terça-feira, 17 de julho de 2012


Deixei o cheiro do café
Invadir meu olfato
Acordei por ele
Depois pelo sorriso...

abri os olhos e
notei sua ausência
ao meu lado
Invadiu-me um arrepio
da certeza da sua volta
com o carinho daquele cheiro
que estava no ar

Naquela manhã não ficaria sem você...

Luciano Lopes

segunda-feira, 16 de julho de 2012

SAUDADES




Com fotos espalhadas
Sobre a cama
e mãos confusas por serem só duas
e nada como escudo
sobrevivo de saudades...

Aponto as fotos com morder de lábios
Com toques de dedos perdidos
e com o que despejo dos olhos
Aprendo que minhas saudades não sabem datas
O que grava isso em mim é de propósito
desorganizado
E os quadros de minhas lembranças
Misturam-se com as fotos...
E as cores desbotam-se
Aponto os momentos...
Aqui cabia um sentimento a ser confessado
Ali um silêncio a ser escolhido...
Ter dito dos sorrisos
Dos vestidos
Dos abraços
E do turbilhão de amor que deixou em mim
vivo esse exagero de passionalidade
a que fui condenado...

Devíamos ter descoberto logo
o quanto brincávamos de abismo...

Luciano Lopes

segunda-feira, 9 de julho de 2012

2ª morte





Deixem quietas minhas ilusões
Algo em mim
Deixou de se regenerar
É uma ferida crua
e crônica...
Vigio a esquina que dobrei as pressas
Não há ninguém...
Espalmo a mão nos tijolos maciços
e úmidos...
Procuro o fôlego
Sinto o gosto dos tijolos na boca
A vida grita realidade...
A saliva, a ânsia,
a ansiedade e a espreita...
Não há ninguém,
desventurado que sou,
importunando minhas ilusões...

Luciano Lopes

MEDO




Preso a saída da porta
Com sintomas de síndrome
Encosto as mãos trêmulas
No portal
Sinto o calor acumulado
da tarde no aço fundido
Quase abstraio
Quem sabe mais um pouco
de calor e a dor era alivio...
Vejo a rua turva
Escorre do azul profundo
o preço
da paga
do meu sobrestamento
em viver plenamente...

Luciano Lopes.

NAS PEQUENAS COISAS






Quando se achava todo já se havia dito
sentido
esquecido
Se aquietado no tempo do verbo perfeito
Vem a saudade ávida ainda e viva
Que sabe todos os atalhos
Com os olhos da alma
que tem visões periféricas
que só o coração enxerga
e só ele traduz...

E da forma sempre irracional que ele escolheu
E aonde nada mais deveria acontecer
há um pouso suave de uma borboleta
multicores
e o perfume de um jardim de jasmim
O homem é movido pela profundidade
que o afeto alcança nele

Luciano Lopes.

POR QUE SEI QUE É AMOR




E quando teus medos dormirem
E quando tuas guardas baixarem até seus pés
E tuas cicatrizes forem
para que a outra metade encaixe
Tu nem vais sentir...
O amor não tem tempo
nem números
Pode ser só um
Podem ser muitos
Podemos ter que parar de contarmos
O que não podemos é esconder nunca
são belas cicatrizes que ele insiste em deixar
na gente enquanto a vida em nós...


Luciano Lopes.

TERNURA DESAPROVEITADA




Você é tão bela
devia eu saber acolher
qual é o carinho que você separou
para mim
Devia eu entender que outros lhe cortejam
Tão pouco eu posso dar- lhe
Senão essa ternura toda
que decantei das ternuras
todas que furtei...
Você é tão livre
que o carinho que você me dá é só meu
mas eu devia entender que há tantas virtudes em você
que transborda carinho para outras pessoas
e tão pouco eu posso suportar
pois enquanto furtava preparo para você
Esqueci da compaixão que sinto desses ciúmes
inesperado de quem vai agir adivinho-me
como um adolescente desprevenido.

Luciano Lopes.

NOTURNO




Num ato tresloucado, “normal,”.
dos meus, deixei o dorso aberto
despreparado, à espera de algo esquecido
A espera de ser acordado
com um espalhar de pelos
que transformasse em soluços e espasmos
a falta desses reflexos que escondi em mim...
O suor desceu rosto a fora ansiedade
arderam meus olhos
com meu próprio sal
Eu menti para carne desejada
e ela mentiu para mim
cedeu algo dentro de mim
que eu ouvi o barulho
Eu pari um choro
que minha boca sentiu
o gosto do meu próprio sal
Sorvi do vinho amigo como veneno
Senti o gosto com meus fluidos
amanheceu o dia...
De dia nada me afeta
A carne desejada
não era mesmo desejada
a ambição era por sua alma
- Não se captura almas-

Luciano Lopes.

Devoção




Não gostaria de ser
nem uma vírgula ruim
num no texto
que conta o dia bom
de uma pessoa
que eu anseie
nem mesmo um hífen
que separasse a sílaba
de uma palavra se não for para ser conforto
Que eu não seja nem mesmo o silêncio
já que ele pode ser nobre
se não for pra ser um bem
que eu seja uma bolha de sabão
que se formou a noite ao acaso
e a noite mesmo
no acaso seguinte seja perdida.

Luciano Lopes.

Maresia





Com coração quente
As mãos frias
Um sorriso tolo
Inseguro,
Olhos novos,
Sensível,
Segurando a respiração
Para não espantar você
... Como quando adolescente
à primeira menina que encostou
sua cabeça em meu ombro
(-ah! Deus tem horas que a gente podia dar conta
de segurar a respiração um pouco mais)
Eu não queria me mexer
tamanha era a magia daquele momento...
Desarmado,
Ingênuo
Taquicardíaco,
Não entre por porta nenhuma...
Entre sim!
Todas elas então oferecidas
antes mesmo dos meus preparos
E quem disse que eu estou preparado?
Que eu não vou fugir fenda qualquer
dessas emoções todas?
Vou não...

Luciano Lopes.

PARTIDOS




No afago de ontem a profecia. Era o último afeto que ela lhe daria. Na face dele as linhas duras de ontem.
A dor e o orgulho de quem não moveria um só músculo para deduzir clemência.
Ele o vazio... O suor entregava-lhe a aflição que ela tanto sabia. A camiseta colada ao corpo e a sensação de evisceração.
Ela a mágoa... Suas mãos pequenas agarravam-se firmes nas alças da bolsa como se buscasse equilíbrio e postura.
Ele a olhou indo na direção oposta. Tão miúda! Não conseguia conciliar em sua memória o motivo de sua partida.
Olhou para o sol até não suportar mais. Voltou às vistas para ela.
Era só um vulto disforme enfeitado de vários tons de sol.

Luciano Lopes.

O BOM LADRÃO





Rodando ciranda com a existência
não sou brisa
ou jardins
Sou feito de tijolos
tirados de uma construção
e grafites de becos ambíguos
Nessa roda viva
vou perdendo as forças das pernas
e das mãos estendidas
vou entendendo
que não vou entender a vida
Entendo mais de fantasias
e me acostumo com essa sina...

Para sobreviver
tomo com astúcia
o afeto de quem me rodeia

Corrompidos pela minha coreografia
dissimulo charme
e aspirjo perfume
para disfarçar essa alma desagregada


Sou o ladrão que todos
torcem nos filmes
Essa parte é engraçada
a parte em que a protagonista
entra na ciranda
boca da noite
me traz sorriso
me traz noticias de outras terras
e me traz flores
e me faz brisa até a madrugada...
até que venha o amanhecer
que me faz tijolo...
que me faz beco...




Luciano Lopes

QUERES SABER DE SAUDADES?





Não demoras assim, saudades minhas
Já vigiei tanto as frestas das janelas
Vens, passa aqui
vestido branco com margaridinhas
Acenas para mim
Olhos, que sejam
Tuas mãozinhas, que desejo,
que sejam
Não demoras tanto assim saudades minhas
Qualquer hora dessas durmo
de lassidão...
Que dissolvas com sua boca em risos
com os sons da tua voz
essa espera atentada
que meu coração me impele
Ah! Essa saudade que eu já quis tanto
Que já me entreguei tanto
pobre de tua presença
tão rico ficou meu imaginar
silhueta tua em tudo que pode ser belo
que bastava uma brisa
por essas frestas tão vazias
que no cheiro úmido da noite
eu sentiria o cheiro bom das margaridas
do teu vestido...

Luciano Lopes




À porta bate a angústia
Já entraram o medo
A solidão
O silêncio que eu não escolhi
Dos meus ombros escorreram
as asas
Uma respiração mais cadenciada

Talvez eu esteja precisando
reaprender a respirar essa vida...

Luciano Lopes

CONTRASSENSO




Fui ermitão confesso...
E minha ousadia
é o bom conviver de um poeta
que me fiz...
De um jeito sutil
que não é minha virtude mais atenta
pois sou mais de alarde...
construí uma ladeira de paralelepípedos
que expôs minha montanha
onde escorreram meus segredos
que não queria contar...
Onde meus joelhos dobraram
de cansaço e emoção...
onde abdiquei da solidão e do silêncio
e fui aos extremos todos
onde sucumbi a meu vicio
que é a emoção até a dor
Essa mania que me tomou
A exposição que me impõe castigo...
Vê! O que é certo em mim
é o contrassenso!
A liberdade desperdiçada
E essa noção empobrecida
do que se tornou a vida
por eterna
Já que escolhi a carne exposta
A vida por relógio é feia...

Luciano Lopes.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Fábula


Devo rever alguns conceitos
mas não vou mudá-los...
Devo rever alguns defeitos
mas devo mantê-los
Devo rever algumas mágoas
mas devo remoer-las
entre ranger de dentes
Devo rever minhas saudades
mas devo protegê-las em suspiros
Devo rever minhas prioridades com urgência
mas devo mesmo, como sempre adiar um bocadinho mais...
nesse universo paralelo em que eu vivo
é bem mais funcional lidar com essas coisas...

Luciano Lopes.

1ª morte

Apesar da sutil similitude dos pecados capitais, a cobiça e a inveja não são pecados meus, e eles me espreitam hoje... Já é uma luta desigual a que eu travo contra a vaidade. Perco dez de cada dez pelejas que travo contra ela... Não arrefece cortar na carne...A solução de continuidade ri e confirma, que sempre agi deixando a razão fora das minhas decisões...Apesar de bater no peito com orgulho, e dizer que minha alma foi forjada nos guetos...Ando por um “triz” de aceitar a fragilidade quase como um remédio...Acho que eu vou logo ali. Tenho que buscar um reservado para essa morte. Sempre sofro quando escrevo, mas hoje estou com todos os sintomas... E não posso beber,nem chorar e nem gritar...Repartições públicas são lugares perfeitos para conseguir uns dias de folga por distúrbios psiquiátrico.

Luciano Lopes.

sábado, 5 de maio de 2012

URGÊNCIA




Então a gente combina assim...
Eu e sua silhueta...
a noite é um convite
o sabor que sinto
na minha boca é agridoce
 o cheiro que sinto é amendoado...
a lua é um holofote que ilumina só os contornos apropriados
...mais perfeito que isso  
só se o tato com o arrepio
fosse imediato...

Lupi Poeta.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

MARIZA

Logo cedo, depois do café, que nunca é amargo o bastante, para sucumbir seus sonhos, ela sai para enfrentar o “tronco” onde lhe açoitam tantas realidades que marcam alma inteira... E apesar das cicatrizes, nunca atingram seu rosto suave e seus olhos de uma nudez que grita beleza... Suas vestes de luta a toga para enfrentar as várias faces de “deus”...que descumpre a promessa de deixar tudo ao livre arbítrio...Ela, resignada sente na carne a dor proferida a outra carne, que o ranger dos dentes estava escrito na hora que foi parido...E Ela ainda sofre com a parte que pariu,pois é a que mais sofre como ordenou a própria ordem das coisas... Ao fim do dia decidi entre o vestido branco ou a saia de seda laranja... Há de ter alguma armadura para manter a feminilidade que por descuido Deus lhe deu de forma profusa...

Luciano Lopes

quarta-feira, 28 de março de 2012

POETISA



Como se fosse um regato
de margem tão suave que os pés
judiam...
O barulho que faz ao primeiro despertar
é a umidade da própria vida
Ah! deixa vir o sorriso a tua boca madura
Deixa o cheiro do viço de mulher sensível
espreguiçar a primeira luz
Toma conta da gente hibridamente
Embalando almas nossas
com sonhos seus
realizações suas...
É assim o dia do nascimento de uma poetisa
Vê-se passando as flores pelo riozinho
uma a uma contado uma história linda
que se envolve em uma aventura
do dom da vida dedicada a descrever beleza
A contar de paixões,de cores
Uma flor mais perfeita que a outra
Vai contando os anos seus
Que não conto até o fim
Seria indelicadeza desse outro vate
Contar a idade
Segredo sempre do charme da mulher
que você é em plenitude
Procura harmonia margem sua...
Mas não tentem tomar a paz da poetisa
Não a façam chorar de tristeza e dor
que seu riozinho toma proporções
de mudar as ilhas todas a sua volta.

Luciano Lopes

MARIA



Chamo-te durante a noite
Já não me escutas?
Provoco-me um prazer burocrático
Que roubo de Anas, de Saras,de Marias...
Arrisco-me a dizer que és de
ti, Maria, que sinto mais saudade...

Quando foi que passaste a subestimar
a minha alma livre?
Já não me escutas?
Tenho que subtrair da imortalidade
a morte dessa noite
e minha saudade exausta,
quase desertora...
Já que não me escutas mais...

Não há verdades em minhas
palavras de desatenção,
Por que verás, ao entrar em meus
espaços, que há vestígios teus por
todos os lados.

Luciano Lopes

segunda-feira, 26 de março de 2012

ESPERA



Quis...
mas não bastam apenas meus desejos
que estão vencidos hoje...
Com o entusiasmo acuado
que adianta meu querer
Se o que tenho são lembranças
e imagens turvas suas?

Que se foi sem medo da revelia
e dos meus julgo ansiosos...
O amor tem como enfeite a reciprocidade
que não tive...
O que sobrou foi esse cansaço causado pelos suspiros
E esse sorriso e fechar de olhos a cada lembrança sua

Ah! Mas se você voltar!
Verá que a dureza de minhas mãos
e dos meus olhos
provocadas por minha resignação exausta
não condiz com o conforto que meu coração
dedicou a esperança da tua volta...

Luciano Lopes

MEUS PERSONAGENS



Vou deixar que me decifrem
dia desses...
Mas dessa devassa arriscada,
sobre olhares suspeitos
de meus personagens
em risinhos pervertidos,
de quem imagina serem donos de segredos
e não são...
Digo...
contem a eles que
não se acha nada em mim a não ser eles mesmos...

Eu os alimentei com meninices tantas
e cirandas que participei e vi passar...
com vaidades minhas...
e com as que não eram minha
que se amanharam magoas
e outros pecados tantos
que nem sei
e nem eles
o que é pecado mais...

Mas há algo fácil de ler...
Não vão encontrar coisas
que ensinem nada à medicina
ou à filosofia...
Melhor que deixem os loucos sem cura
e os postos em paixão continua
com esse infortúnio curioso...
Esse tipo de gente
competem certo
de que qualquer coisa fora
do contesto que não seja
o risco total pela alegria
não faz a vida valer à pena...


Luciano Lopes.

sábado, 24 de março de 2012

PASSEIO DO POETA



As vezes tomo um caminho dispersos
acreditado alucinadamente contemplar
mais do que a visão alcança
Tolice dissimular que eu possa entediar-me
se imaginação tenho com mais força
que a razão...
Tenho essa visão doidivanas das coisas
deixo ficar meus olhos mais atentos
deixo minhas fantasias tomarem conta de mim
ando devagarzinho desviando das emendas das calçadas

Ah! como são bela as cores das coisas todas
caleidoscópica é minha compreensão delas...

Há uma moça na janela
Perturbo-me com seu jeito feminino
e um olhar perdido
Reconheço meu olhar no dela
Apaixono-me irremediavelmente
Sempre me apaixono por um instante do dia
não conto novidade nenhuma
Só que meus escritos
já tem compromisso certo com os suspiros...
Ela se afasta
Decoro seu semblante
e eu sei já sorrir...
Foi assim que aprendi
Não sirvo para paixões longas
Estou mais para lembranças
nunca as perco...
Deixo para os cronistas descrever socialmente o que a cidade oferece
Eu, egoísta, fico com as cores
com os vultos que vejo
com os imagináveis
Com as historias que tomo posse dos edifícios
das esquinas,
dos becos
e as paixões que invento
e as que deixam em mim.


Luciano Lopes.

sexta-feira, 16 de março de 2012

DESABAFO



Eu estou na vida para ser do bem
Cercar-me de pessoas do bem
Para ser feliz
Para crescer como ser humano
Não procuro a perfeição
Procuro fugir do defeito total...
Eu falo com “gentes”
Gosto de ouvir “gentes”...
Mas falar mal por falar mal
esse quem lhes escreve
não fala não!
Quero ficar longe de intrigas
Perto da sensibilidade
Longe da inveja
já que a vaidade provoca-me
Quero o bem querer das pessoas
Ah! Não falem mal de mim quem não me conhece
Já basta a injustiça que fazemos uns com os outros
Mania tola das pessoas de adivinhar os outros
por qualquer gesto tresloucado...
Logo eu que sou meio estabanado a primeira vista...
Tenho dores e amores
Tenho erros enormes
Ansiedades e vontades...
Eu tento ser simples
Não quero ser simplório
Eu quero mais é ser muito feliz
e tentar não deixar ninguém triste...
Se eu estiver deixando alguém triste
Deixe-me...
Deixe-me...
De tudo, o que mais sei
é que sei ser um ermitão.

Luciano Lopes

quinta-feira, 15 de março de 2012




...

NOS DÃO APRAZADAS

PORÇÕES DE ALEGRIA

TÃO POUCA...

EU QUERIA MAIS...

ISSO DE ALEGRIA

VICIA A GENTE ...


Luciano Lopes